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O Monarcas Morelia não pode ser esquecido

  • Gabriel Bomfim
  • 20 de jun. de 2020
  • 6 min de leitura

Alguns clubes de futebol mudam de cidades, normalmente essas mudanças acontecem com equipes novas ou times pequenos. No México isso está acontecendo com um clube tradicional, o Monarcas Morelia. A equipe mudou de cidade, de nome, de cores e de escudo. O time abandonou tudo, inclusive o mais importante que é a sua torcida.


O novo clube é o Mazatlán, de cidade homônima no estado de Sinaloa que é lugar também do Dorados, uma rivalidade que pode ajudar a popularizar o Mazatlán. Mesmo com essa possibilidade, o Monarcas Morelia tinha um rival muito mais importante no futebol mexicano, era o América.


Rapidamente após a mudança do time, o ídolo Marco Antonio Figueroa, conhecido pela torcida como Fantasma Figueroa, indicou que o clube de Morelia não iria acabar. O chileno faz parte do projeto que busca manter o futebol na cidade de Morelia, no estado de Michoacán, mas a equipe terá apenas o nome Morelia. O ex-jogador chileno é o maior artilheiro da história do Monarcas Morelia com 140 gols em 267 jogos e ele foi treinador da equipe por 29 jogos na temporada 2006/07. Quando Figueroa era jogador, o time se chamava Atlético Morelia.


Figueroa no Atlético Morelia

De clube de segunda divisão até

estabilidade na liga mexicana

O Monarcas Morelia foi fundado no dia 4 de junho de 1950. A primeira participação na primeira divisão mexicana foi em 1957/58. O time se manteve na liga com posições ruins, até que em 1968/69 voltou para a divisão de acesso. Na temporada 1964/65, o Morelia surpreendeu ao chegar na final da Copa do México, mas na decisão foi goleado pelo América por 4 a 0. O time campeão tinha o brasileiro Vavá como principal jogador, ele já tinha sido bicampeão (1958 e 1962) da Copa do Mundo pelo Brasil e artilheiro do Mundial de 1962.


Nos anos 70, o clube teve campanhas medianas na segunda divisão e permaneceu por lá na década. Em 1973, o nome Atlético Morelia foi adotado. A equipe conseguiu o título da segunda divisão em 1980/81. A volta ao campeonato nacional mudou o tamanho do Morelia. Nos anos 80 e 90, o time se manteve na primeira divisão tendo o 4º lugar como melhor posição. Em 1996, o torneio passou a ter dois campeonatos que eram chamados de Inverno e Verão.


Monarcas surpreende o México

No ano de 1999, a equipe passou a ser chamada de Monarcas Morelia. O novo nome deu sorte, no torneio de Inverno de 2000 o futebol mexicano viu um time coadjuvante se tornar respeitado. A competição tinha 18 clubes que se enfrentaram em turno único, além disso foram divididos em 4 grupos, 2 com 5 times e 2 com 4 equipes. O Morelia ficou com o quinto lugar na classificação geral, mas ficou em terceiro num grupo de 5 clubes, a campanha teve 7 vitórias, 6 empates e 4 derrotas.


Por ser o melhor terceiro colocado dos grupos, o Morelia foi disputar a repescagem contra o Irapuato que ficou com o 9º lugar na classificação geral. O Monarcas perdeu o primeiro jogo por 1 a 0 fora de casa, mas na volta goleou por impressionantes 7 a 2 em casa.


Nas quartas, o Morelia teve como adversário o gigante Pachuca. O jogo de ida em casa terminou empatado por 0 a 0, se na volta os times empatassem o Pachuca se classificaria por ter melhor campanha. Na volta, o hondurenho Carlos Pavón marcou o gol da vitória do Morelia por 2 a 1 fora de casa, ele chegou a 14 gols na competição.


Nas semifinais, o desafio da equipe seria encarar o Santos Laguna que contava com o ídolo mexicano Jared Borgetti, ele já tinha feito 17 gols no torneio. O jogo de ida foi fora de casa, os times terminaram empatados em 0 a 0. Em casa com a vantagem do empate, o Morelia abriu 3 a 0, mas sofreu 2 gols do Santos Laguna. Apesar do susto, o clube se classificou pela primeira vez para a final do Campeonato Mexicano.


Nas finais, o rival foi o Toluca que tinha a segunda melhor campanha do torneio e tinha a vantagem de decidir em casa. O adversário contava com o paraguaio José Saturnino Cardozo e o brasileiro naturalizado mexicano Sinha como principais peças. No jogo de ida, em casa, o Monarcas Morelia abriu uma boa vantagem vencendo por 3 a 1, o artilheiro Pavón se manteve sem marcar gols, mas seu parceiro de ataque, o brasileiro Alex Fernandes marcou seu 10º gol na competição e ajudou na vitória.


No dia 16 de dezembro de 2000 aconteceu o jogo da volta, o Monarcas jogou fora de casa e tomou dois gols logo no primeiro tempo. O placar permaneceu 2 a 0 para o Toluca inclusive na prorrogação. Nos pênaltis os dois times erraram o terceiro e quinto, e na sétima cobrança do Toluca, o mexicano García Arias parou no goleiro argentino Ángel Comizzo que espalmou a bola para fora. Na vez do Monarcas, o mexicano Heriberto Morales fez o gol do título, 5 a 4 nos pênaltis para o Morelia. O título coroou a comemoração de 50 anos da equipe.


Decisão do Torneio de Inverno de 2000

Últimos momentos de brilhantismo

A partir de 2002 o campeonato nacional foi dividido entre torneio Apertura e Clausura. O Monarcas Morelia foi vice do Apertura 2002 e do Clausura 2003. O time também foi vice da Champions League da Concacaf em 2002 e 2003. No ano de 2002, o Morelia estreou na Libertadores e teve sua melhor campanha na história da competição chegando até as quartas. O clube teve 9 vitórias, 2 empates e 5 derrotas (4 delas para o mexicano América e 1 para o venezuelano Caracas). O Monarcas chegou a vencer Nacional, do Uruguai, e Vélez Sarsfield, da Argentina.


O Monarcas nunca conseguiu retomar essas boas campanhas internacionais, mas no começo da década seguinte foi bem no campeonato nacional, a equipe foi vice do Clausura de 2011.


A Copa do México não era disputada desde 1997, mas em 2012 ela voltou divida em torneios Apertura e Clausura. Na Copa do Apertura 2013, o Morelia venceu 6 de 8 jogos até a final, além de 1 empate e 1 derrota. O confronto decisivo foi em casa contra o Atlas, o Monarcas abriu 2 a 0, mas sofreu 1 gol no primeiro tempo. Na segunda etapa, o Morelia tomou o empate, depois fez o terceiro, mas sofreu outro empate (3 a 3). O jogo foi bem equilibrado no tempo normal, mas o Monarcas foi campeão facilmente nos pênaltis vencendo por 3 a 1. O destaque do título foi o goleiro argentino Federico Vilar que pegou três pênaltis, além de ter feito um gol nas cobranças de penalidades.

Final da Copa do México Apertura 2013

O último ano emocionante do Monarcas Morelia foi 2017, o clube foi vice da copa mexicana do Clausura. No campeonato nacional do Clausura daquele ano, o Morelia viveu uma situação atípica, o time chegou na última rodada com chances de ser rebaixado pela média de pontos dos últimos cinco torneios e com chances de se classificar para o mata-mata da competição. Para evitar o rebaixamento teria que vencer o Monterrey fora de casa, o Monarcas abriu o placar no primeiro tempo, mas sofreu o empate aos 40 do segundo tempo por um gol de pênalti e inacreditavelmente conseguiu vencer o jogo aos 45 minutos com o gol do peruano Raúl Ruidíaz que estava há menos de um ano no clube e se tornou ídolo da torcida. A equipe foi eliminada no mata-mata, mas mostrou sua força como um grande time.

Gol de Ruidíaz que evitou o rebaixamento do Monarcas Morelia em 2017

Questões de franquias do futebol mexicano

A pandemia de coronavírus cancelou os torneios mexicanos do Clausura 2020 e 2 dias antes do Monarcas Morelia completar 70 anos foi anunciada a sua extinção devido a mudança para Mazatlán. Esse problema acontece porque o futebol mexicano tem o sistema de franquias como os esportes principais dos EUA, isso faz com que torcidas apaixonadas percam suas equipes.


A questão das franquias tem mais dois exemplos recentes, um da ficção e outro da realidade. Na série mexicana Club de Cuervos, da Netflix, o time fictício Cuervos passa por uma situação que envolve a troca de cidade e o assunto das franquias do futebol no México é debatida nas temporadas da série.



Cartaz da série Club de Cuervos

A situação da vida real acontece com o Atlante. O clube é bicampeão da Champions League da Concacaf, pentacampeão mexicano e tri da Copa do México. Mesmo com toda a história de conquistas, o Atlante passa por um momento difícil por jogar desde 2014 a segunda divisão mexicana. O time é também o que mais mudou de cidade na história do futebol mexicano tendo trocado de local por 5 vezes e passado por 4 cidades (Cidade do México, Querétaro, Nezahualcóyotl e Cancún).


No começo de junho, o antigo dono do Atlante, Manuel Velarde e o empresário Greg Taylor que agenciava jogadores do Atlante, se tornaram donos do Querétaro que joga na primeira divisão mexicana. Eles transferiram mais de 10 jogadores do Atlante para o Querétaro, a especulação é que em algum momento aconteça uma mudança de nome no clube, mas por enquanto é só uma forma de colocar o Atlante na primeira divisão mexicana.


A manobra parece ter sido feita para burlar a medida da Federação Mexicana de Futebol de que nenhum clube poderá subir para primeira divisão até 2022 e não existirá rebaixamento da primeira divisão até 2026, a FIFA já indicou não ser favorável a exclusão de rebaixamentos e acessos.


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© Camisa Sete. Criado por Gabriel Bomfim.

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