top of page

A Alemanha escondida

  • Gabriel Bomfim
  • 1 de mai. de 2020
  • 9 min de leitura

A principal competição continental de clubes no futebol feminino é a Champions League europeia, além dela só a Libertadores reúne clubes da maioria dos países locais.


O torneio está sendo disputado pela décima nona vez. A equipe com mais títulos é a francesa Lyon com 6 conquistas. Porém, o destaque das campeãs não vai para um clube, ele é de um país: a Alemanha. Com 9 títulos divididos por 4 times alemães, a competição é contada através deste protagonismo. O que mais impressiona é que só 5 times da Alemanha participaram de todas as 19 edições da Liga das Campeãs, contando com a atual 2019/20.



Bayern


A história das participações do país pode começar a ser contada a partir do único representante sem títulos, o Bayern. O time da cidade de Munique estreou na competição continental na temporada 2009/10 e está em sua sexta Liga das Campeãs.


A melhor colocação do Bayern foi em 2018/19 quando a equipe chegou até as semifinais com uma campanha de 5 vitórias e 1 empate. Nos confrontos iniciais foram duas vitórias contra o sérvio Spartak Subotica, 7 a 0 fora de casa e 4 a 0 em casa. O clube somou mais dois triunfos nas oitavas, dessa vez contra o Zurich, Suíça, 2 a 0 como visitante e 3 a 0 em casa.


Nas quartas veio o jogo de destaque do Bayern na competição, uma vitória por 5 a 1 em casa sobre o Slavia Praha, da Tchéquia, no jogo de ida o resultado foi 1 a 1 fora de casa. O time foi eliminado nas semifinais pelo espanhol Barcelona com duas derrotas por 1 a 0. Na temporada atual, as alemãs enfrentariam o Lyon nas quartas com a possibilidade de fazerem a melhor campanha da história do time, mas o torneio foi adiado por tempo indeterminado devido a Covid-19.



Bayern 5x1 Slavia Praha



O Bayern foi a base da seleção alemã na Copa do Mundo de 2019, das 7 jogadoras do clube que foram convocadas, 3 foram titulares. O destaque é Sara Däbritz, ela foi a artilheira da seleção com 3 gols.



Sara Däbritz

Duisburg


Na galeria das alemãs campeãs europeias, o Duisburg entra com um título que foi conquistado na edição 2008/09. O clube teve três participações, além do primeiro lugar na estreia, chegou as semifinais nos dois torneios seguintes. No total, a equipe conta com impressionantes 22 vitórias, 4 empates e somente 2 derrotas.


Para conquistar seu título europeu, o clube disputou a fase de grupos na Ucrânia, na estreia venceu o ucraniano Naftokhimik por 5 a 1, no jogo seguinte outra vitória de goleada dessa vez sobre o espanhol Levante por 5 a 0 e se classifica em primeiro derrotando o Brondby, da Dinamarca, por 4 a 1.


O Duisburg conseguiu nas quartas uma classificação incrível vencendo duas vezes o alemão Frankfurt por 3 a 1 fora de casa e 2 a 0 em casa. Nas semifinais passou com dificuldades contra o Lyon, da França, primeiro com 1 a 1 fora de casa e vencendo por 3 a 1 em casa. Na final goleou por 6 a 0 o Zvezda Perm, da Rússia, fora de casa e empatou em casa por 1 a 1 para conquistar sua única taça do torneio continental.



Jogadoras do Duisburg comemorando o título continental



A jogadora Inka Grings esteve presente nas três participações do Duisburg, ela marcou 34 gols pelo clube no torneio, os três mais importantes foram no jogo de ida da final de 2008/09 contra o Zvezda Perm, da Rússia.


Em 2009 a Alemanha foi campeã da Eurocopa com 5 jogadoras do Duisburg no elenco, 4 delas sendo titulares. A seleção atropelou as rivais fazendo 21 gols em 6 jogos. Grings foi a artilheira da Euro com 6 gols.



Inka Grings


Turbine Potsdam

Outro campeão vindo da Alemanha é Turbine Potsdam, o clube teve seu sucesso europeu na primeira década da competição. Foi bicampeão com títulos nas edições 2004/05 e 2009/10, além de ter dois vices em 2005/06 e 2010/11.


Em 2004/05, a fase de grupos foi tranquila para o Turbine Potsdam, três vitórias em três jogos disputados em casa. Na estreia fez 6 a 0 no francês Montpellier. Na segunda rodada venceu o Wroclaw, da Polônia, por 4 a 1. E na partida final, um jogo espetacular contra o italiano Torres, vitória por 7 a 5.


Nas quartas confronto contra o Energy Voronezh, da Rússia, na ida fora de casa empate por 1 a 1, na volta em casa venceu por 4 a 1. Nas semifinais, uma classificação fácil sobre o Trondheims-Orn, da Noruega, venceu em casa por 4 a 0 e fora de casa por 3 a 1. Na final, o Turbine Potsdam obteve duas vitórias tranquilas contra o sueco Djurgarden, 2 a 0 fora de casa e 3 a 1 em casa.


Turbine Potsdam comemorando um dos títulos europeus

Um fato curioso da conquista é que uma das maiores jogadoras brasileiras da história fazia parte do Turbine Potsdam, a jogadora é Cristiane Rozeira que disputou alguns jogos da competição.


Cristiane no Turbine Potsdam

No título de 2009/10, o Turbine Potsdam foi avassalador nos resultados. O primeiro confronto foi contra o finlandês Honka, venceu por 8 a 1 na ida fora de casa e por 8 a 0 na volta em casa. Nas oitavas, duas vitórias contra o Brondby, da Dinamarca, 1 a 0 em casa e depois 4 a 0 fora de casa. Nas quartas atropelou o noruguês Roa com duas vitórias por 5 a 0. Nas semifinais veio o confronto mais dificíl, na ida perdeu pro Duisburg fora de casa por 1 a 0, na volta devolveu em casa a vitória por 1 a 0 e se classificou nos pênaltis fazendo 3 a 1.


O momento mágico da conquista veio com extrema emoção. A final contra o Lyon, da França, foi disputada na Espanha. Os clubes empataram por 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação. As duas equipes cobraram 9 pênaltis cada e o Turbine Potsdam venceu de virada por 7 a 6.


Turbine Potsdam 7x6 Lyon nos pênaltis


No Mundial Feminino de 2011, a seleção alemã teve três convocadas do Turbine Potsdam. Nos Jogos Olímpicos de 2004, o clube teve 6 representantes na seleção, correspondendo a um terço das convocadas.

Wolfsburg

Na segunda década do torneio, foi a vez do Wolfsburg ser bicampeão e ser duas vezes vice. O bicampeonato veio nas competições de 2012/13 e 2013/14 e os vices em 2015/16 e 2017/18.


A campanha do primeiro título começou com vitória por 5 a 1 fora de casa e por 6 a 1 em casa contra o time polonês Unia Racibórz. Nas oitavas se classificou contra o Roa, da Noruega, com vitória por 4 a 1 em casa e depois com empate por 1 a 1 fora de casa. Passou pelo Rossiyanka, da Rússia, nas quartas com duas vitórias, a primeira por 2 a 1 em casa e a segunda por 2 a 0 fora de casa.


Nas semifinais duas vitórias sobre o time inglês Arsenal, fora de casa por 2 a 0 e em casa por 2 a 1. O primeiro título veio após vitória por 1 a 0 sobre o Lyon, da França, o jogo foi disputado na Inglaterra. O destaque individual foi para a artilheira da competição com 8 gols, a alemã Conny Pohlers.


Jogadora do Wolfsburg comemorando gol na Liga das Campeãs

Na Champions League seguinte o bicampeonato começou a ser construído com dois resultados incríveis contra o estoniano Pärnu, vitória por 14 a 0 fora de casa e depois em casa por 13 a 0. Mais duas vitórias nas oitavas, agora sobre o Rosengard, da Suécia, na ida 2 a 1 fora de casa e na volta em casa foi 3 a 1. Nas quartas dobradinha contra o espanhol Barcelona, vitórias por 3 a 0 em casa e depois por 2 a 0 fora de casa. Nas semifinais veio o primeiro empate, ele aconteceu no jogo de ida contra o Turbine Potsdam por 0 a 0 fora de casa, no jogo em casa uma bela exibição e a classificação depois de vencer por 4 a 2 de virada.


A final do torneio trouxe muitos ingredientes para ser uma das melhores da história: jogadoras de um nível muito alto como a brasileira Marta jogando pelo sueco Tyresö contra o esquadrão de craques alemãs do Wolfsburg, muitos gols, ótimo público de mais de 11 mil torcedores em Portugal, além de um roteiro intenso durante o jogo. Marta e a espanhola Vero fizeram 2 a 0 para o Tyresö, mas no segundo tempo o Wolfsburg empata com gols das alemãs Popp e Müller. Três minutos depois Marta coloca o clube sueco na frente. Mais tarde, a alemã Schweers empata e aos 35 do segundo tempo Müller marca novamente dando o título ao Wolfsburg. Um 4 a 3 inesquecível. A goleadora do torneio foi Martina Müller com 10 gols.


Wolfsburg 4x3 Tyresö


O Wolfsburg teve 4 convocadas na Eurocopa de 2013 e na Copa do Mundo de 2015. Na Euro 2013 elas conquistaram o torneio pela Alemanha.

Frankfurt

Das 9 taças conquistadas por clubes alemães, 4 são do Frankfurt. O tetracampeonato foi conquistado nas edições 2001/02, 2005/06, 2007/08 e 2014/15. Além de 2 vices em 2003/04 e 2011/12.


O primeiro título veio logo na primeira edição do torneio. A equipe alemã fez uma fase de grupos dominante, venceu os três jogos, 1 a 0 contra o espanhol Levante, 5 a 0 contra o moldavo Codru Chişinău e por fim, um incrível 18 a 0 no armênio Yerevan. Os três jogos foram disputados na Alemanha.


Nas quartas vieram duas vitórias sobre o dinamarquês Odense, 3 a 0 fora de casa e depois 2 a 1 em casa. Nas semifinais uma disputa equilibrada com o Toulouse, da França, o Frankfurt venceu fora de casa na ida por 2 a 1 e empatou por 0 a 0 em casa na volta. 12 mil pessoas acompanharam a final no Waldstadion, em Frankfurt, e viram o time da casa ser campeão vencendo o Umea da Suécia por 2 a 0. A alemã Steffi Jones foi a primeira artilheira da história da Liga das Campeãs marcando 9 gols, incluindo um na final.


Steffi Jones

O torneio de 2005/06 foi mais difícil de ser vencido pelo Frankfurt. Na fase de grupos estreia vencendo o Luzern, da Suíça por 4 a 0. Na segunda rodada tropeça com empate por 1 a 1 com o tcheco Sparta Praha. No jogo decisivo, se classifica goleando por 11 a 1 o Gömrükçü Baku, do Azerbaijão. Os jogos da fase inicial foram disputados na Suíça.


Nas quartas se classificou contra o inglês Arsenal com um empate fora de casa por 1 a 1 e depois vencendo em casa por 3 a 1. A classificação mais difícil veio depois de uma derrota por 1 a 0 em casa no jogo de ida das semifinais para o Montpellier, da França, mas no jogo de volta fora de casa a virada veio com um belo 3 a 2 para o Frankfurt. A final foi alemã contra o Turbine Potsdam, fora de casa vitória por 4 a 0, depois em casa diante do estádio lotado com mais de 13 mil apaixonados pelo Frankfurt, o clube venceu novamente, mas dessa vez por 3 a 2.

Atletas do Frankfurt celebrando o título de 2005/2006


O terceiro título do Frankfurt começou com jogos equilibrados, todos da fase de grupos jogados na Bélgica. Estreia vencendo o islandês Valur por 3 a 1, vence também no jogo seguinte o inglês Everton por 2 a 1 e se classifica empatando com o belga Rapide Wezemaal por 1 a 1. Nas quartas passa com dificuldades contra o russo Rossiyanka, empate por 0 a 0 fora de casa e depois vitória por 2 a 1 em casa. Nas semifinais, vitórias fáceis sobre o Bardolino Verona, da Itália, na ida 4 a 2 em casa e na volta 3 a 0 fora de casa. O título veio sobre o sueco Umea, empate fora de casa por 1 a 1 e no jogo valendo a taça, vitória por 3 a 2 em casa com mais de 27 mil torcedores.


As titulares do Frankfurt de 2007/08

A conquista mais recente do Frankfurt é também o título mais recente das alemãs no torneio continental. O confronto de estreia foi contra o BIIK Kazygurt, do Cazaquistão, na ida fora de casa empate por 2 a 2, na volta em casa vitória por 4 a 0. Nas oitavas, o Frankfurt atropela o italiano Torres com vitórias por 5 a 0 em casa e depois 4 a 0 fora de casa. As quartas trazem mais facilidade ainda, o inglês Bristol Academy foi goleado por 5 a 0 na Inglaterra e por 7 a 0 na Alemanha. Mais uma classificação tranquilo veio nas semifinais, a equipe alemã fez 7 a 0 em casa e depois 6 a 0 fora de casa contra o dinamarquês Brondby.


No jogo da final um público de 17 mil pessoas na Alemanha, Frankfurt contra PSG, da França, a alemã Šašić abre o placar no primeiro tempo para o Frankfurt, mas alguns minutos depois a francesa Delie empata para o PSG. Aos 47 do segundo tempo, a alemã Islacker dá o quarto troféu de Liga das Campeãs para o Frankfurt. Célia Šašić foi a artilheira do torneio com impressionantes 14 gols.

Frankfut 2x1 PSG

Nas convocações da Alemanha para Eurocopas, as atletas de Frankfurt sempre estiverem presentes com destaque. Na Euro 2001 foram 6 jogadoras do clube, na Euro 2005 foram 5 do Frankfurt e na de 2009 participaram 4 jogadores do time. Nos três torneios a Alemanha foi campeã.


Nas Copas do Mundo de 2003 e 2007 foram 6 convocadas do Frankfurt, enquanto no Mundial de 2015 foram 5 atletas. Em 2003 e 2007 as alemãs foram campeãs mundiais. 6 atletas foram convocadas na Olimpíada de 2008 e na Olimpíada de 2016 em que a Alemanha foi campeã, o Frankfurt teve 2 convocadas.


O futebol feminino alemão começou a ter torneios nacionais tanto na Alemanha Ocidental quanto na Alemanha Oriental nos anos 70, isso fez com que as jogadoras conseguissem ser dominantes no continente europeu com a seleção e com os clubes.


Mesmo com o domínio das alemãs no futebol feminino da Europa, elas continuam sendo invisíveis para boa parte do mundo do futebol. Se isso acontece com jogadoras vitoriosas, imagine o quanto outras atletas pelo mundo lutam para simplesmente entrarem em campo e terem espaço no esporte.


Comments


© Camisa Sete. Criado por Gabriel Bomfim.

bottom of page