O Persepolis conquistou mais um título nacional
- Gabriel Bomfim
- 24 de jul. de 2020
- 5 min de leitura
O Persepolis conquistou hoje o seu 13º título do Campeonato Iraniano. A equipe venceu o Naft Tehran por 2 a 1 na 26ª rodada do torneio, sendo campeão faltando 4 rodadas para o término. A competição voltou no dia 28 de junho, exatos quatro meses depois do último jogo antes da paralisação devido a pandemia de coronavírus.
Persepolis 2x1 Naft Tehran
Antes do retorno, o Persepolis tinha 10 pontos a mais que o vice-líder Sepahan e o terceiro colocado Tractor. A diferença agora do Persepolis para os dois times é de 17 pontos, o único clube que poderia alcançar o campeão era o Foolad que tem 2 jogos a menos e 42 pontos. O Foolad pode chegar no máximo a 60 pontos, dois a menos do que o Persepolis tem.
A equipe é tetracampeã seguida e está invicta há 15 jogos (14 vitórias e 1 empate) na atual temporada. Em termos de conquistas, esse é o melhor momento da história do Persepolis que além do tetra na liga, foi campeão da Copa Iraniana na temporada 2018/19 e teve sua melhor posição na Champions League da Ásia, ficando com o vice em 2018.
A principal figura dessas últimas temporadas vitoriosas é o treinador croata Branko Ivankovic que treinou o Persepolis da temporada 2015/16 até 2018/19. Sob o comando do croata, a equipe fez 175 jogos, vencendo 98, empatando 49 e perdendo apenas 28 jogos. Branko Ivankovic saiu do Persepolis para treinar Al-Ahli, da Arábia Saudita e atualmente é o técnico da seleção de Omã.
Ivankovic trouxe peças importantes para a equipe como a promessa iraquiana Bashar Resan, de 23 anos. O meia chegou em 2017/18 e já tem quase 90 jogos pela equipe. Resan continua sendo um dos principais jogadores no time que agora é comandado pelo iraniano Yahya Golmohammadi.
O treinador iraniano foi jogador do clube em outro grande momento do Persepolis que foi nos anos 90. Ele chegou no meio da atual temporada e só comandou o Persepolis em 12 jogos.
Por isso, grande parcela do título se deve ao argentino Gabriel Calderón que treinou a equipe por 19 jogos e teve aproveitamento de 73% na rápida passagem. O motivo da saída do comandante foi o atraso de pagamento de salários por parte do Persepolis.
Dentro de campo, o clube contou com os gols do jovem atacante iraniano Ali Alipour para ajudar nas conquistas. Alipour chegou ao Persepolis em 2014/15 com 19 anos, ele é o 9º atleta com mais partidas pela equipe (206) e sexto maior artilheiro com 68 gols.
História do Persepolis
A história do Persepolis é recheada de títulos. A equipe fundada em dezembro de 1963, esteve presente no primeiro campeonato nacional disputado em 1970/71. Nos anos 70 foi o clube foi o mais vencedor do futebol iraniano com 3 títulos da liga.
Mas o futebol no Irã sofreu um duro golpe devido a Revolução Iraniana em 1979 e a guerra entre Irã e Iraque que aconteceu de 1980 a 1988. O Campeonato Iraniano de 1978/79 acabou sem campeão e só na temporada 1989/90 o torneio retornou. Nesse tempo sem o torneio nacional, os times disputavam campeonatos locais.
O descaso com o futebol de clubes influenciou na derrocada da seleção iraniana que antes da revolução era a maior campeã asiática com 3 títulos seguidos da Copa da Ásia (1968, 1972 e 1976), sendo imbatível conquistando três torneios de forma invicta. Além de ter se classificado para a Copa do Mundo pela primeira vez em 1978. O Irã nunca mais foi campeão asiático e só voltou aos Mundiais em 1998.
O Persepolis teve um momento espetacular no retorno das competições nacionais. De 1986, ano de retorno da Copa Iraniana, até o início dos anos 2000, a equipe faturou mais 5 Campeonatos Iranianos (1995/96, 1996/97, 1998/99, 1999/2000, 2001/02) e 3 copas nacionais (1987/88, 1991/92, 1998/99).
Em competições nacionais, o time estava à frente dos rivais da cidade de Teerã, o Esteghlal e o Pas. Mas já tinha visto o Esteghlal ser bicampeão da Champions League Asiática (1970 e 1990/91) e o Pas ser campeão continental em 1993. Enquanto o Persepolis conseguiu no máximo o terceiro lugar nas edições de 1996/97, 1999/00 e 2000/01 da Champions League da Ásia.
O Pas foi extinto em 2007, posteriormente o Persepolis ganhou a Liga Iraniana em 2007/08 e a Copa do Irã nas temporadas 2009/10 e 2010/11. O Esteghlal se tornou o maior campeão das copas nacionais com 7 títulos e ficou a uma taça de empatar com o Persepolis no número de conquistas do Campeonato Iraniano.
O Persepolis voltou a ter a hegemonia do campeonato nacional com os títulos em 2016/17, 2017/18, 2018/19 e 2019/20, além de chegar a sexta conquista da Copa Iraniana em 2018/19. E teve o importante vice da Champions League Asiática de 2018.

Jogadores do Persepolis na final da Champions League Asiática de 2018
Torcidas iranianas
Persepolis e Esteghlal fazem o clássico de Teerã sempre com o estádio Azadi lotado. O Tractor e o Sepahan também colocam bons públicos em seus estádios. Apesar dessas quatro torcidas enormes, a média de público do futebol iraniano é baixa, o Campeonato Iraniano de 2019/20 tem média de apenas 8737 torcedores, sem contar é claro com os jogos sem público devido a pandemia de Covid-19.
A discrepância se deve a alguns fatores. A capacidade de público dos estádios é um deles, enquanto alguns chegam a 80 mil lugares, outros têm apenas 8 mil. A diferença entre o maior e menor público do torneio é abissal, o jogo entre Tractor e Esteghlal na 9ª rodada levou 80 mil pessoas, já o jogo da 5ª rodada entre Machine Sazi e Shahin Bushehr teve apenas 100 espectadores.
Outro fator muito importante para a média de pública ser baixa é que as mulheres iranianas desde 1981 são proibidas por lei de entrarem em estádios. É assustador pensar que as mulheres não têm o direito de acompanharem seus clubes de perto.
No dia 10 de outubro de 2019, foram disponibilizados 3500 ingressos para as mulheres iranianas verem Irã e Camboja no estádio Azadi, todos foram comprados e depois de 28 anos, as iranianas puderam torcer dentro do estádio.
O retorno das mulheres só foi garantido porque em setembro do mesmo ano, a iraniana de Sahar Khodayari, de 29 anos, ateou fogo sobre si mesma após ser impedida de entrar no estádio Azadi mesmo se disfarçando de homem. Ela queria ver o jogo entre Esteghlal e Al Ain, dos Emirados Árabes Unidos, pela Champions League Asiática.

Sahar Khodayari torcendo disfarçada pelo Esteghlal
As mulheres continuam não podendo ir a jogos de equipes, o próprio Persepolis foi além e não permitiu que mulheres enviassem fotos para o clube colocar nos papelões que ficam nas arquibancadas durante os jogos na pandemia de coronavírus.
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